28 de out. de 2007

Os Sinos de Nagasaki

"Todos me chamavam ao mesmo tempo: eram doentes do hospital que tinham sobrevivido, ou melhor, não tinham ainda morrido... Como a explosão se era na hora de maior movimento, na hora que funcionava o ambulatório para doentes externos, os corredores, as salas de espera, os laboratórios, eram um amontoado de corpos, corpos nus de feridas expostas, corpos nus com a pele em tiras, corpos nus que pareciam de argila pela cinza que aderira a eles.

Espetáculo tão tremendo, que não se podia imaginar que se tratasse de seres humanos, nem que semelhante quadro pudesse jamais existir... Dessa alucinante massa de carne, arrastavam-se lentamente aqueles em que existia ainda um sopro de vida; cercavam-me, agarravam-me as pernas: 'Salve-me, doutor!' - gemiam eles. Alguns, impossibilitados de falar, exibiam apenas suas chagas.

(...) Vinte minutos tinham se passado depois da explosão. Toda a região de Urakami ardia em grandes labaredas. O próprio centro do hospital já pegara fogo. Somente a ala direita, ao longo da colina, permanecia intacta. Mas não tínhamos mais material ou ajudantes; era deixar se propagar o incêndio e contemplar o espetáculo medonho: corpos nus cambaleando, tropeçando, continuavam a escalar a colina para fugir da fornalha. Duas crianças passaram, arrastando o pai morto. Uma jovem mulher corria, apertando contra o peito o filho decapitado. Um casal de velhos, mãos dadas, subiam juntos, lentamnete.

Outra mulher, com as vestes repentinamnte ateadas, rolou pela colina abaixo como uma bola de fogo. Um homem enlouquecera e dançava em cima de um telhado, envlto em chamas. Alguns fugitivos voltavam-se a cada passo, enquanto outros caminhavam firmes para a frente, apavorados demais para voltar. (...). Por detrás desta gente, as labaredas avolumadas aproximavam-se cada vez mais. Felizes ainda eram esses 10% que escaparam do inferno; os outros, presos e soterrados sob escombros, morriam queimados vivos.

(...) A pressão imediata [provocada pela bomba] foi tamanha que, no raio de um quilômetro, todo ser humano que se encontrava do lado de fora, ou num local aberto, morreu instantaneamente ou dentro de poucos minutos. A quinhentos metros da explosão, uma jovem mãe foi encontrada com o ventre aberto seu futuro bebê entres as penas. Muitos cadáveres perderam suas entranhas. A setecentos metros, cabeças foram arrancadas e, por vezes, olhos saltaram das órbitas.Alguns, em conseqüência de hemorragias internas, estavam brancos como folhas de papel, os crânios fraturados deixavam destilar o sangue pelos ouvidos.

O calor chegou a tal violência que, a quinhentos metros, os rostos foram atingidos a ponto de ficarem irreconhecíveis. A um quilômetro, as queimaduras atômicas tinham dilacerado a pele, fazendo-a cair em tiras,dando-lhe um tom marrom avermelhado e deixando à vista a carne sangrenta. A primeira impressão não foi, segundo parece, a de calor; mas a de dor intensa, seguda de frio excessivo. A pele levantada era frágil e saía facilmente. A maioria das vítimas morria com rapidez."

NAGAÍ,Paulo. Os sinos de Nagasaki. São Paulo: Flamboyant, 1656.

O relato acima é de um médico japonês, Paulo Nagaí, que estava em Nagasaki no dia 9 de agosto de 1945, precisamente às 11h02min, momento em que caía sobre essa cidade a seguna bomba atômica na II Guerra Mundial, com apenas o intervalo de três dias em relação à primeira. Nagaí estava ferido mas ainda assim prestava socorros às vítimas do maior ato de violência e intolerância do mundo. P'ra variar, o autor do crime foi o país conhecido com Eatados Unidos da América, cujo ódio mantenho firme em minhas convicções mais profundas. De lá pra cá, esses doentes não mudaram muito sua ideologia : mataram seus próprios "filhos" no 11 de setembro, ainda matam em guerra atual (disputa de xadrez entre velhos amigos de infância), mutilaram torno de 154 pessoas aqui no Brail em acidente aéreo.

Agora imaginem só, este mesmo país que mata por futilidades burguesas não quer permitir as pesquisas com células tronco, por se tratarem de vidas inocentes destruídas. Digam-me, eles pensaram nas mães e filhos carbonizados em Hiroshima e Nagasaki? Sentiram pesares pelas vítimas do 1907 da Gol? Nunca sentiram e jamais sentirão. Imundos! Não digo que pensam somente em dinheiro porque nem sei se esses animais desenvolveram a capacidade de pensar. É triste e desoladora minha sensação de inutilidade... Não é possível que ninguém mais consiga visualizar esse absurdo!

Resta o consolo dos pensamentos previamente elaborados, em torno da vontade do "ser" humano : "Esforçar-se para viver ou esforçar-se para morrer" (The Shawshank Redemption. Castle Rock Entertrainment) . Infelizmente a última opção é mais promissora, não por ser mais cultivada (ainda), mas por ser a mais facilitada e incentivada.

Um comentário:

  1. Apesar de alguns erros menores, que não são capazes de comprometer a compreensão do texto per si, adorei o tom de acusação e denúncia que colocaste em teu poste.

    Sendo assim, continue deste jeito que se tornará uma grande jornalista.

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