18 de set. de 2011

Um domingo luterano

Eis que finalmente me encontro aqui na terra nórdica, tentando acabar com a procastinação da vida em seus vários círculos interativos. As coisas ainda não se colocaram nos seus devidos lugares, até porque nem sei ainda a quais devidos lugares pertencem minhas coisas.

Então, vamos falar sobre a Finlândia. Quando a coragem aparecer - espero que pelo menos uma vez por semana - vou escrever aqui coisas sobre a vida prática e controversa neste território pantanoso do extremo norte.

Ok, acho que posso começar. 

Fiquei sabendo que a maoria do pessoal aqui na Finlândia é da religião luterana. Lembrei das aulas de história no ensino médio, quando religiões e ideologias de épocas distintas eram postas pelos professores numa espécie de time-line preguiçosa, onde você só aprendia que depois do ano tal o povo se revolta e funda ideia tal. 

Era um domingo de manhã. Tudo ensolarado, grama verdinha, folhas vermelhas e amarelas caindo no chão - ah é a primeira vez que experiencio um outono propriamente dito. Daí, decidi que não custava nada da uma olhada despretenciosa na missa que celebram na igreja aqui perto de casa. (Moro na cidade de Jyväskylä, quase 300km da capital Helsinki).

A despretenção transformou-se num entusiasmo esquisito, mas sem afetar meu ceticismo. Começando pela disposição arquitetônica do edifício que abriga as cerimônias, pude notar que algo interessante ia se passar lá dentro. 

Frente da igrejinha.

Se não fosse pela cruz, eu não identificaria como uma igreja. Tem vários prédios nesse estilo por toda a cidade. Na frente, tem um painel com os horários das missas e outras atividades sociais desenvolvidas pela igreja.

O interior da igreja parece meticulosamente elaborado para dar impressões celestiais aos participantes da celebração. Sombras e luzes bem distribuídas por todo o salão principal (não sei direito o nome), dando um ar de contemporainedade ao ambiente semi-circular.


Visão geral do salão principal.

O altar é rodeado por uma espécie de "cerca" (amigos arquitetos, perdoem a falta de terminologia técnica) e pequenos bancos de madeira acochoados para que os participantes do culto possa ajoelhar-se ao receber a hóstia.

O altar.
Agora a missa me surpreendeu. Sendo sincera, mas com toto respeito, as missas de domingo que assisti pelas igrejas católicas fora demasiadamente monótonas e eu temia que a atmosfera cansativa e nefasta, típica de missas de domingo se repetisse. Doce engano.

Pra começar, a maioria da missa foi cantada. Muito bem cantada, por um coral. Vozes perfeitas, afinadíssimas e divinamente regidas por um maestro ilustravam as notas soadas por um órgão também tocado perfeitamente. Já vi apresentações de corais antes, mas nunca como aquele. Passei a cerimônia inteira boqueaberta. 

Cancioneiro.
Ao entrarmos na igreja, somos recepcionados pelos sacerdotes e recebemos a bíblia deles, que mais parece um cancioneiro para leitores avançados. É através do livro que podemos acompanhar a missa. As páginas são previamente escolhidas pelos sacerdotes e os números são expostos em painéis disponíveis nas paredes à frente do público.
Páginas do cancioneiro.
Outra diferença - acredito que mais marcante - em relação à missa católica, é que esta missa luterana foi celebrada por uma mulher. Até comentei com algumas pessoas que eu nunca tinha presenciado tal coisa e me disseram que aqui é muito comum que mulheres celebrem as missas. Ainda existem padres/sacerdotes mais conservadores que são contra, mas é extremamente arriscado defender uma postura assim numa sociedade como a finandesa. E assim, os opressores viram simples orpimidos.

Mas continuando...
Depois da missa tem um "comes e bebes" no salão de convivências, simples porém muito bom. Geralmente café, leite e uns pães e bolos que tem gosto de festa de natal. Quando lembrei que deveria fotografar, já tinha comido e bebdido tudo. Deixa pra próxima!

Salão de convivências. Povo do coral brocando à esquerda.
Eu gostaria de ter filmado e fotografado a cermônia, pra oferecer mais detalhes aqui. Mas achei que seria um pouco desrespeitoso, além de eu ser novata - ia pegar demasiadamente mal. Assim, esperei até o término da missa pra poder fotografar algumas coisas.

Tenho um material preparado aqui sobre "procedimentos de chegada" na Finlândia. Além disso, tem várias curiosidades e outros caos que eu vou escrever aqui futuramente.

Total caos pra todos vocês!

3 comentários:

  1. Olá, como vai? Nossa, quanto tempo, talvez nem se lembre direito de mim... Acompanho seu blog há milênios, e já há séculos não via atualização... Tá tudo bem por aí? Pensei que iria estudar na Alemanha, não na Finlândia... Está só a passeio? E a faculdade, já terminou? Desculpe tantas perguntas... : )
    Por aqui tudo tranquilo, estou ainda batalhando contra os concursos públicos...
    Gostei do post, ótimo relato... Não fosse escrito por uma jornalista, diria que por uma antropóloga... ; )
    Beijos,
    Jamil

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  2. Oi Jamil! Claro lembro sim, nem teria como nao lembrar :) Pois foi, terminei a universidade, vim parar na Finlândia onde to esperando por um mestrado proximo ano. Influencia do meu tcc, ainda to na vibe geertz-levi-strauss.Ihhh muita coisa aconteceu... so algumas horas de conversas digitadas pra acertar o compasso haha Antes do fim da guerra, ente uma batalha e outra, tente aparece no msn!

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  3. Que legal, Renée! Desejo-lhe todo o sucesso que você certamente merece, no plano pessoal e acadêmico.
    Há século não entro no msn, que por sinal está até desinstalado por aqui; vou ver se o instalo novamente e volto a usar qualquer dia desses. Tenho mantido algum contato com os terráqueos via Facebook; se você o usa também, me avise.
    Gostaria de ler a sua monografia de tcc, se você pudesse me enviar um dia...
    Obrigado, cuide-se bem, beijos,
    Jamil

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